segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pelegrino coloca nome para 2012 em entrevista a Tribuna confira

A caminho do sexto mandato como deputado federal, Nelson Pelegrino não esconde o desejo de ser alçado à condição de prefeito da terceira capital do país. Para ele, que classifica Salvador como “viável”, é necessário pensar a cidade estrategicamente “como o presidente Lula pensou o Brasil”.
Nessa entrevista à Tribuna da Bahia, Pelegrino diz ser possível construir a hegemonia no PT em torno do seu nome, pois “o partido está amadurecido”.
O deputado diz ainda que o prefeito João Henrique aproveitou pouco o alinhamento com os governos federal e estadual nos últimos anos. O petista diz também não acreditar que o senador eleito Walter Pinheiro vá voltar a disputar a indicação do partido em 2012, como fez em 2008.
“Pinheiro foi eleito senador e vai cumprir seu mandato de oito anos”. Nelson Pelegrino diz ainda que “falta um planejamento estratégico da cidade”.
Além de afirmar ser pouco provável o PT voltar a integrar o governo municipal, ele defende uma aproximação entre o prefeito JH e o governador Jaques Wagner. “Se o governador quer dar a mão ao prefeito, acho correto, até mesmo porque é preciso haver sinergia entre o governo e a prefeitura”.
No campo estadual, Pelegrino reafirma o seu desejo de voltar a ocupar espaço no governo Wagner e admite que, caso seja convidado, voltará a ocupar uma vaga no Executivo.

Tribuna - O PT já deixou claro que busca ampliar a hegemonia no estado, conquistando agora Salvador. Em 2012 será um dos nomes fortes do partido?

Nelson Pelegrino - Olhe, eu nunca escondi o meu sonho e a paixão que tenho por Salvador. As pessoas diziam: - ‘ah você deveria ser prefeito de Camaçari, onde é o deputado mais votado, o PT tem uma situação consolidada lá, tem um prefeito como Luiz Caetano’. Mas eu tenho uma paixão por Salvador, que eu acho uma cidade viável. Se a gente pensar Salvador estrategicamente, como Lula pensou o Brasil, nós poderemos tirá-la dessa situação e construirmos uma cidade mais igual e uma cidade em que possamos usar mais sua potencialidade natural. O povo de Salvador é um povo que trabalha muito, é empreendedor e está acostumado a vencer desafios. Nós podemos tentar fazer com que essa sinergia conflua para um projeto de cidade. Portanto, meu nome está à disposição e isso não é nenhum segredo. Já coloquei para o partido essa disposição, já tentei a prefeitura três vezes e o meu sentimento está colocado para discussão não só dentro do PT, mas pra um possível leque de alianças para que a gente possa definitivamente realizar o sonho de ter um prefeito do PT em Salvador.

Tribuna - Acredita que a unanimidade pode ser construída dentro da legenda em torno do seu nome?

Pelegrino - Acredito, pois o partido está amadurecido. E nós podemos construir uma unidade tanto pelo consenso, como pelo processo democrático porque nós temos que ter um sentimento de que o PT tem um nome para apresentar para cidade e para os partidos que compõem a aliança da base do governo Wagner. Penso que nós estamos em um momento muito privilegiado. O prefeito João Henrique governou seis anos do governo Lula e quatro anos do governo Wagner e foi aproveitado muito pouco dessa oportunidade de abertura com os governos. Uma das tarefas que tenho a partir do ano que vem – sem negligenciar das atividades que tenho como deputado federal, já que fui votado em 398 municípios – é dar uma atenção especial para Salvador, pensar em construir estratégias para construirmos uma cidade do futuro.

Tribuna - Há quem diga que o senhor errou ao priorizar a eleição de Maria Del Carmem para a Assembleia. Inclusive, há várias lideranças importantes do PT que não topariam construir um apoio pelo seu nome facilmente...

Pelegrino – Desconheço essa informação. Em Salvador, eu dobrei com mais de 30 deputados, a exemplo da própria Maria Del Carmem, J. Carlos, Yulo (Oiticica), Rosemberg (Pinto), entre outros. Fiz dobradinha com os principais não só do PT, como de outros partidos que têm base eleitoral em Salvador.

Tribuna - O que o faz acreditar que dessa vez dá para conquistar o Palácio Thomé de Souza?

Pelegrino - Eu penso que é o momento do PT. Nós temos um presidente da República do PT e um governador do PT. Salvador já viveu várias experiências e agora quer viver a experiência de ter um prefeito do PT. Eu sinto isso na rua. Na eleição passada, as pessoas me diziam: É a sua vez. Muitas até comparavam se referindo ao presidente Lula, que só foi na quarta vez. Hoje o povo me aborda naturalmente nas ruas e se manifesta sobre isso. As pessoas acham que é a vez do PT. Muitos dizem que eu sou a pessoa que está mais posicionada dentro do partido, sendo a que mais conhece a cidade, que já concorreu várias vezes, tem experiência, é um deputado de Salvador e tem procurado intervir pela cidade. Por tudo isso, acredito que seja a nossa vez. E acho que, se ganharmos, Salvador vai viver um cenário muito favorável com a presidente Dilma e o governador Jaques Wagner.

Tribuna - Na última eleição, o senhor abriu mão do Senado em prol de Walter Pinheiro. No entanto, ele pode vir a disputar a indicação do partido. Isso pode voltar a acontecer?

Pelegrino - O deputado Pinheiro foi eleito senador e disputou a última eleição, portanto, tem todas as credenciais para disputar o pleito em Salvador. Eu penso que, quando nós fizemos um grande acordo no PT para evitar a disputa, até para não cometermos erros do passado e para viabilizarmos a eleição dele para o Senado, houve uma compreensão de que o mandato de senador é de oito anos e que não teria sentido ele sair dois anos depois para disputa à prefeitura. Acho que nós, dentro do PT, amadurecemos em relação a isso e que o papel do companheiro Walter Pinheiro é o de cumprir o seu mandato como senador de oito anos. Inclusive já vi declarações públicas dele dizendo que deseja cumprir o mandato de senador.

Tribuna - Além dos próprios correligionários, quem o senhor colocaria como maior adversário na disputa?

Pelegrino - Eu citaria apenas os partidos que têm força política na cidade. O PT e seus aliados que podem marchar para uma candidatura única. Nós temos uma força política real na cidade, temos base na Câmara com os vereadores, base de inserção social e acúmulo político e possibilidade de sinergia com o governo estadual e federal. Tem também o DEM, o PSDB e o PMDB que foram atores nessa última disputa eleitoral.

Tribuna – O senhor foi um dos deputados petistas mais bem votados e está indo para o sexto mandato. Se convidado, voltaria a assumir algum cargo no executivo estadual?

Pelegrino - Assumiria. Eu gostei muito, e me identifiquei, da experiência com o Executivo. Já estou indo para sexto mandato parlamentar e se for convidado pelo governador Jaques Wagner para reforçar o seu projeto eu voltarei a integrar sua equipe com muito prazer.

Tribuna - Rumores dão conta de que a indicação para a Secretaria de Justiça, antes comandada pelo senhor, estaria em suas mãos. Há algum entendimento com o governador sobre isso?

Pelegrino - Não. Quem nomeia e quem escolhe secretários é o governador. Todos os secretários são subordinados a ele, que pode até receber sugestões, mas os atuais secretários são subordinados ao gestor, que é quem nomeia.

Tribuna - Como o senhor analisa a nova composição do governo Wagner? Como ele vai reestruturar o governo para dar esse perfil mais técnico que pretende?

Pelegrino - É um governo de continuidade que tem o desafio de ser um governo que se reinventa. O presidente Lula inaugurou na política brasileira uma máxima muito importante de que o segundo governo deve ser melhor que o primeiro. Esse é o desafio que eu tenho certeza que o governador Jaques Wagner vai cumprir, pois ele já organizou a máquina para isso.


Tribuna - Qual sua avaliação sobre a gestão do prefeito João Henrique?

Pelegrino - Eu penso que não é um problema de João Henrique, mas um problema da cidade. Eu acho que Salvador se ressente de um planejamento estratégico para enfrentar certas situações. Eu estava lembrando muito da campanha de 2004, onde muito do que eu propus o prefeito João Henrique também propôs e, passados seis anos, muito pouco se fez. Por exemplo, existia uma crítica muito grande em relação ao inchaço dos terceirizados, e hoje a prefeitura ainda vive esses problemas com contratos de terceirizados, dívida pública, entre outros. Primeiro é preciso organizar financeiramente e administrativamente a prefeitura. O prefeito teve uma iniciativa correta quando começou a discutir a questão tributária da cidade, de que é preciso financiar, agora é preciso saber como se financia. Existem saídas e instrumentos que não são lançados e quando são lançados não são da melhor forma. Na administração pública, as coisas acontecem de forma lenta.

Tribuna – Então o que faltou ao prefeito?

Pelegrino – Faltou formatar planejamento estratégico e garimpar projeto e correr atrás para que as coisas aconteçam. São seis anos de governo Lula e quatro de governo Wagner, é muito tempo perdido que vamos precisar recuperar. Portanto, quando falamos na construção de planejamentos estratégicos, é tudo isso. Temos problemas de mobilidade urbana, de saneamento básico, habitação e saúde. A segurança que é colocada somente como responsabilidade do Estado pertence também ao município, que pode ser parceiro. Desde 2004 defendi que é preciso fazer uma conferência sobre segurança com todos os atores, tendo a participação do município. Tem problemas hoje em Salvador que só podem ser resolvidos metropolitanamente, e o prefeito de Salvador é o líder natural da Região Metropolitana. Por exemplo, é ele quem tem que abraçar projetos como o de pegar o trem da Calçada e ir até Alagoinhas, o de expandir o metrô da cidade, discutir modelos de tarifas que integrem trem, metrô e ônibus.

Tribuna - Qual o principal erro e principal acerto da gestão municipal?

Pelegrino - O principal erro é justamente a falta de um planejamento estratégico da cidade. Pode até ser que ele tenha procurado tais caminhos, mas não conseguiu viabilizar. Como ponto positivo eu diria que foi quando ele colocou à disposição o financiamento da cidade, a necessidade da cidade de se financiar. Mas o principal problema foi ele não ter enfrentado as questões globais da cidade e não ter tido elementos estratégicos para tratar os problemas.

Tribuna - Como avalia a aproximação do prefeito com o governador Jaques Wagner?

Pelegrino – Olhe, nós somos republicanos em nossas relações. Eu acho que um dos motivos da vitória retumbante do governador Jaques Wagner é que ele veio para negar um passado em que o governante, quando o prefeito era da oposição, não podia subir no palanque e o governador ainda colocava no palanque o opositor derrotado. Salvador é a capital da Bahia, reunindo quase 20% da população, então o estado não pode virar as costas para a cidade. O governo não tem virado e eu acho que é correto o governador dar as mãos ao prefeito. Ele deu as mãos durante esses quatro anos, apesar de haver algumas dificuldades por causa da orientação política. Se o governador quer dar a mão ao prefeito, acho correto, até mesmo porque é preciso haver sinergia entre o governo e a prefeitura para construção de projetos de mobilidade urbana e para a Copa do mundo.

Tribuna - Existe alguma possibilidade de o PT voltar a integrar o governo municipal?

Pelegrino - Acho pouco provável. Nós já estamos já no sexto ano da segunda gestão de João Henrique. Acho que tem outro tipo de contribuição que o PT pode dar à cidade, com o governo estadual e federal, ajudando nos projetos. Temos na Câmara os vereadores do partido que também podem contribuir votando nos projetos que são bons para cidade e discordando daqueles que não sejam viáveis.

Tribuna - Baianos no governo Dilma. Quais suas apostas? A Bahia será prestigiada?

Pelegrino - Acho que a Bahia tem excelentes nomes que podem compor o ministério da presidente Dilma. Tem o nome da senadora eleita Lídice da Mata, do senador eleito Walter Pinheiro, do deputado Zezéu (Ribeiro), que é também muito respeitado no Congresso Nacional, do deputado Geraldo (Simões), de Luiz Alberto, do próprio Rui Costa, que é ligado ao governador, o de Eva (Chiavon) e o meu também, que tem sido lembrado. Também há o nome do deputado Mário Negromonte, presidente do PP. A Bahia tem bons nomes que já foram tecnicamente testados. Portanto, acredito que um desses ou até outro técnico comporá a equipe da presidente Dilma.

Tribuna - Qual a sua expectativa sobre o governo Dilma?

Pelegrino – Eu penso que o governo Dilma será de continuidade ao governo Lula, tendo o desafio de se reinventar também. Ela tem desafios importantes de consolidar os projetos sociais e a ideia de se erradicar a miséria e a pobreza e ainda o de transformar um modelo sustentável ambiental no Brasil. A nova presidente tem ainda o desafio de enfrentar questões necessárias como a reforma política e tributária e problemas que temos hoje no país nas áreas da educação, da saúde pública, da segurança, das drogas e as questões da juventude, que envolvem educação, emprego e políticas públicas. Tem ainda o desafio de o Brasil continuar sendo líder político no cenário mundial, ser líder no continente americano e entre os países emergentes. O desafio também de se trabalhar essa riqueza que nós temos que é o pré-sal e ainda de o Brasil continuar sendo escola para o resto do mundo na economia e no social.


Tribuna – Existe o risco de os criminosos do Rio de Janeiro migrarem para a Bahia?

Pelegrino - Por muito tempo, o PCC e outras facções tentaram entrar na Bahia, mas na minha gestão (Secretaria de Justiça) eu sempre tentei dar uma atenção especial a isso. Fizemos uma parceria com a Secretaria de Segurança para termos uma postura de combate com esses grupos, através de revistas periódicas com apreensão de celulares, apreensão de drogas, com a montagem de inteligência de sistema prisional, de mudanças na estrutura. Ao mesmo tempo, em nós dávamos prioridade ao comando do sistema, dávamos chances para quem queria se ressocializar, através de programas. A Bahia hoje é referência no Brasil em saúde prisional e nós temos importantes trabalhos também na área de educação nos presídios. Tivemos a construção de novos presídios, temos projetos para construirmos mais e temos verbas para implantarmos dez cadeias públicas em lugares estratégicos para resolvermos principalmente o problema de presos em delegacias.

Informações da Tribuna da Bahia



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