Colocando em prática a licitação do Sistema de Transporte Coletivo de Salvador (STCO), no início de janeiro, a Prefeitura colocou nas ruas os 461 primeiros ônibus da frota que vai rodar na cidade. Pouco discutido com a população, o processo que escolheu as empresas que vão gerir o transporte público pelos próximos 25 anos ainda não conseguiu agradar os passageiros, que reclamam da falta de conforto dos veículos já disponibilizados e questionam se houve, de fato, mudanças em relação à antiga frota.
"Aumenta o transporte e não tem a menor condição de conforto. Eu não vi nada de melhoria. Esses ônibus estão piores. Agora, quando eu saio com o meu marido, eu fico esperando o comum [antigo], mesmo que passe esse. Eu prefiro sair bem mais cedo e ficar esperando o outro", disse à Metrópole a dona de casa Márcia Pimentel, de 63 anos, que viu a tarefa de pegar um ônibus ficar pior desde a última semana.
Opinião semelhante tem o líder da oposição na Câmara Municipal, Gilmar Santiago (PT). Segundo o parlamentar, a primeira remessa da nova frota não traz nenhuma novidade no quesito conforto. "Quando você vai analisar os ônibus novos, observa-se que, apesar de serem mais novos dos que os que estão rodando, eles têm o mesmo problema: não têm nenhum tipo de conforto e ainda reduziram o espaço para idosos, o que tem criado um problema grave", criticou o oposicionista.
Tá com calor? Ar condicionado só em 2016
Apesar de, no verão, a temperatura de Salvador passar dos 30º, só os passageiros que circularem nas rotas consideradas mais importantes pela Prefeitura vão contar com o conforto da climatização - e não tão cedo. "O ar condicionado vai chegar em um segundo momento às vias troncais da cidade, onde passará o BRT", explica o secretário de Transporte de Salvador, Fábio Mota.
Questionado sobre a falta nas demais linhas, o secretário argumenta. "Quando você fala nisso, está falando de custos. Fizemos um processo licitatório onde a prefeitura exigiu uma série de investimentos, e nunca na história de Salvador aconteceu isso. Nós hoje temos uma frota com 8,5 anos de média e vamos cair para 3 anos, passando a ter a frota mais nova do Brasil. Tudo isso tem um custo, então no segundo momento, pelo custo, ficou pelas vias troncais".Ainda segundo Mota, os veículos climatizados devem começar a rodar em meados do segundo semestre de 2016.
Idosos reclamam do aperto
O espaço destinado aos idosos é um dos principais pontos de desagrado na nova frota de ônibus. "É uma verdadeira lata de sardinha. Eu estive em São Paulo recentemente, e a frente do ônibus é muito mais ampla. Aqui é um verdadeiro curral. Não é ruim só para o idoso, é para a pessoa que tem deficiência, a mulher grávida", conta Márcia Pimentel, que teve uma experiência nada agradável com os novos veículos quando tentava ir ao médico, junto com o seu marido, de 85 anos. "Quando o ônibus chegou, os três lugares de idosos já estavam ocupados e à frente já tinha uns quatro ou cinco idosos. Aí travou. Ficamos uns cinco minutos com o ônibus parado. Eu pedi ao motorista para abrir a porta do meio, e ele se recusou", conta Márcia.
O secretário de Transporte de Salvador, Fábio Mota, nega que a área seja insuficiente para a demanda, mas a Prefeitura correu para tomar uma atitude que minimizasse o problema. "Pelo contrário, inclusive, estamos ampliando a área para os idosos na configuração dos ônibus: tinham poucos assentos para idosos e estamos ampliando. Um decreto assinado pelo prefeito autoriza que os idosos passem a catraca e tenham a opção de escolher se vão ficar nos três assentos ou nos outros disponíveis para todas as pessoas", diz Mota.
Faltaram placas para a nova frota
Além da falta de conforto, leitores da Metrópole flagraram ônibus da empresa Boa Viagem, que faz a linha Alto de Coutos-Pituba, circulando sem a placa de identificação do veículo. A situação foi confirmada pelo secretário Fábio Mota. "Fizemos toda a vistoria da Transalvador e, na hora de fazer o emplacamento, não tinha placa, mas os ônibus estão rodando com autorização", afirma. A situação deve ser regularizada até o fim da semana.
Prefeitura pede mais tempo
Discordando da impressão de que a tarifa aumentou e o serviço não melhorou, Fábio Mota afirma que ainda não há tempo para avaliar as mudanças. "Passamos 40 anos sem processo licitatório e não podemos mudar a realidade em 40 dias. É evidente que as mudanças estão aí. Estamos com 461 ônibus rodando pela cidade. Quebra menos, anda mais rápido, as poltronas são diferenciadas, todos eles têm acessibilidade", falou.
Porém, a diferença sentida por muitos baianos não foi positiva. Se na frota anterior os passageiros contavam com acolchoamento nos assentos e até mesmo encosto de cabeça em algumas unidades, nos veículos novos, os usuários vão ter que se contentar com bancos de plástico. "Ou seja, nós vivemos em uma cidade que faz muitos calor e esses ônibus não trazem nenhuma novidade. Pelo contrário, repetem os mesmo problemas", criticou o vereador Gilmar Santiago.
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