Foto reprodução Secom
Um esquema de fraude contra o fisco estadual e
de concorrência desleal em licitações públicas, mediante uso de empresas em nome
de sócios 'laranjas' para simular disputas em editais de governos estaduais e
municipais, foi o alvo da operação Aleteia, executada no sábado (14) e na manhã
deste domingo (15), em Salvador e São Paulo. O valor já estimado do prejuízo
causado pelas fraudes fiscais é de R$ 4,5 milhões. Conduzida por força-tarefa
reunindo o Ministério Público Estadual e as secretarias estaduais da Fazenda
(Sefaz-BA) e da Segurança Pública (SSP), a operação já cumpriu quatro dos nove
mandados de prisão emitidos, além de 26 de busca e apreensão.
A prisão do casal Rafael Prado Cardoso e Ariana
Nasi ocorreu no sábado (14), em São Paulo. Já o empresário César Mattos e a
'laranja' Maria de Fátima Andrade Silva foram presos na manhã deste domingo
(15), em Salvador. Estão foragidos os empresários Bruno e Ricardo Mattos, irmãos
de César, a 'laranja' Tatiane Ramos e ainda dois funcionários de empresas do
esquema, Washington Mendes e Marcos Menezes.
Os resultados da Aleteia foram apresentados
pelos coordenadores da operação: o promotor de Justiça Luís Alberto Vasconcelos,
integrante do Grupo de Atuação Especial de Combate à Sonegação Fiscal e aos
Crimes Contra a Ordem Tributária e Econômica (Gaesf) do Ministério Público, a
inspetora responsável pela área de investigação e pesquisa da Sefaz-Ba, Sheilla
Meirelles, e o delegado Marcelo Sanfront, do Departamento de Repressão ao Crime
Organizado (Draco).
Movimentação de R$ 83
milhões
Os coordenadores da operação Aleteia explicaram
que os prejuízos causados pela fraude fiscal podem ser bem maiores, já que,
segundo as investigações, as mais de 20 empresas envolvidas nas fraudes
movimentaram cerca de R$ 83 milhões não declarados à Receita Federal. De acordo
com eles, para operar as fraudes em licitações havia dois grupos distintos
atuando em sintonia. O primeiro, liderado por Rafael Prado, criou mais de 15
empresas nos últimos anos. O outro era formado pelos irmãos Mattos, que criaram
mais de dez empresas. A utilização de 'laranjas' era central no esquema.
As fraudes ocorreram em licitações dos governos
da Bahia e de outros estados das regiões Norte e Nordeste, e também das
prefeituras de Salvador e de outros municípios do interior baiano. As diferentes
empresas criadas pelo esquema forneciam itens variados, como livros, material
escolar e de escritório e medicamentos. Elas simulavam disputas e, ao ganharem
as licitações com preços muito abaixo do mercado, forneciam produtos de má
qualidade, diferentes daqueles apresentados na assinatura do contrato. “Não
encontramos indício de participação de servidores públicos”, afirmou o delegado
Sanfront.
As irregularidades cometidas pelos integrantes
do esquema incluem a inserção de declarações falsas nas informações
econômico-fiscais, em que eram omitidas aquisições de mercadorias tributadas, e
a utilização de sócios 'laranjas' na composição societária, com a finalidade de
ocultar operações tributáveis e de obter isenção de responsabilidade penal e
tributária pelo não recolhimento do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS).
Investigação começou pela
Sefaz-Ba
A inspetora da Sefaz-Ba, Sheilla Meirelles,
contou que o esquema começou a ser investigado há cerca de três anos, quando o
fisco constatou um débito de mais de R$ 1 milhão de uma empresa que não mais
existia. Ao aprofundar as pesquisas, a Sefaz-Ba encontrou elevado grau de
sonegação fiscal praticado pelas diversas empresas ligadas ao grupo.
De acordo com o promotor Luís Alberto
Vasconcelos, os mandados de busca e apreensão tiveram o objetivo de coletar os
documentos necessários à instrução do inquérito policial em curso e à
fiscalização das empresas utilizadas como fachada no esquema. O MP também
solicitou à Justiça o bloqueio dos bens e das contas bancárias dos
investigados.
Foi caracterizada, de acordo com o promotor, a
atuação de organização criminosa que, com práticas fraudulentas, desestabilizava
o mercado por meio de concorrência desleal, praticando preços muito inferiores
ao mercado e permitindo aos integrantes do esquema a acumulação de patrimônio de
forma irregular. Vasconcelos explicou que o nome da operação remete ao grego
antigo: "aleteia é o espírito da verdade, que se opõe às mentiras e à fraude”.
As investigações contaram com a participação da Coordenadoria de Segurança e
Inteligência Institucional (CSI) do Ministério Público da Bahia e o apoio da
Polícia Civil de São Paulo.
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