Em maio, dois meses
depois da Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia do novo
coronavírus (Covid-19), 19 milhões de trabalhadores e trabalhadoras estavam afastadas
do serviço no Brasil. Desse total, 9,7 milhões estavam sem remuneração. Outros
18,3 milhões tiveram a jornada de trabalho reduzida e 2,4 milhões tiveram a
jornada ampliada. No geral, o total de horas efetivamente trabalhadas por
semana ficou bem abaixo da média habitual, passando de 39,6 para 27,4, em maio.
Os dados que fazem
parte da Pnad Covid-19, criada a partir da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios, que acompanha o mercado de trabalho, foram divulgados nesta
quarta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com os
técnicos do IBGE, esse vendaval no mercado de trabalho provocado pela pandemia,
derrubou o rendimento dos trabalhadores. A média de renda foi de R$
1.899, queda de 18,2% em relação ao valor normalmente recebido (R$ 2.320). As
quedas foram maiores no Nordeste e no Sudeste, onde a renda de maio
correspondeu a 80,3% e 80,7%, respectivamente, da que foi registrada pelo
instituto antes do novo coronavírus. “Nós já sabíamos que havia uma
parcela da população afastada do trabalho e agora a gente sabe que mais da
metade dela está sem rendimento”, observou o diretor adjunto de pesquisas do
IBGE, Cimar Azeredo. “São pessoas que estão sendo consideradas na força (de
trabalho), mas estão com salários suspensos. Isso não é favorável e tem efeitos
na massa de rendimentos gerada, que está estimada abaixo de R$ 200 bilhões.”
De acordo com a
pesquisa, quase 40% dos domicílios (38,7%) receberam algum auxílio do governo
em consequência da pandemia de coronavírus. O valor médio do benefício, segundo
o IBGE, foi de R$ 847. Nas regiões Norte e Nordeste, esse auxílio atingiu mais
metade dos domicílios.
A estimativa era de que
o país tinha, em maio, 160,9 milhões de pessoas com 14 anos ou mais, que é
considerada pelo instituto a população em idade de trabalhador. Mas 75,4
milhões estavam fora da força de trabalho, formada por 94,5 milhões. Destes,
eram 84,4 milhões de ocupados e 10,1 milhões de desempregados.
Os números mostram
certa diferença em relação à Pnad Contínua, que divulga dados trimestrais. As
mulheres representavam 43,5% da força de trabalho, 42,8% dos ocupados e 49,5%
dos desempregados, com taxa de desemprego maior que a dos homens (12,2% e 9,6%,
respectivamente).
A região Nordeste era a
que tinha o maior percentual de pessoas afastadas do trabalho devido ao
isolamento social, segundo o IBGE. Eram 26,6% do total, para uma média
nacional. No Sul, a taxa foi de 10,4%. Entre as pessoas com 60 anos ou mais,
27,3% estavam afastadas, participação que subiu para 33,3% no Nordeste. Entre
as categorias de trabalhadores, o afastamento devido à pandemia atingiu 33,6%
dos empregados domésticos sem carteira assinada. Em seguida, vieram os
empregados setor público (29,8%) e do setor privado (22,9%), ambos também sem
carteira.
“Claramente os
trabalhadores domésticos sem carteira foram os mais afetados pela pandemia”,
observou Cimar. “Parcela expressiva deles tem renda média abaixo de um salário
mínimo. Já os com carteira foram menos afetados porque têm mais estabilidade”,
acrescentou o diretor.
Entre os 65,4 milhões
de pessoas não afastadas, 8,7 milhões estavam no chamado trabalho remoto ou
home office. O número corresponde a 13,3% dos ocupados não afastados. Entre as
mulheres, o percentual sobe para 17,9%, ante 10,3% dos homens.
E vai a 38,3% no caso
daqueles com nível superior completo ou com pós-graduação. Cai para 0,6% entre
trabalhadores sem instrução ou com ensino fundamental incompleto.
O IBGE calculou ainda
em 36,4 milhões o total de pessoas “pressionando o mercado de trabalho”. É a soma
de desempregados com aquelas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram
serviço.
Dessas, 26,8 milhões
não procuraram devido à pandemia ou por falta de oportunidade na região.
A pesquisa do IBGE quis
ainda saber dos entrevistados se eles haviam sentido algum sintoma que pode, ou
não, estar associado à covid-19. Assim, 24 milhões (11,4% da população)
relataram sintomas de gripe. E 3,8 milhões (1,8%) apontaram perda de capacidade
de sentir cheiro ou sabor. Perto de 1 milhão (0,5%) acusaram tosse, febre e
dificuldade de respirar.
Das pessoas que haviam
apresentado algum sintoma e procuraram atendimento em hospitais, 113 mil
precisaram ser internadas, na maioria homens (59,4%) e de cor preta ou parda
(56,3%), classificação usada pelo IBGE. Mais de 40% tinham idade superior a 60
anos. Dos internados, 31 mil precisaram ser sedados, intubados e colocados em
respiração artificial.
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