Uma nova safra de greves está despontando às vésperas do início da Copa do Mundo. São movimentos de oportunidade, deflagrados em praça pública para, deliberadamente, causar transtornos reais e ganhar manchetes. Foi assim, na primeira semana de maio, com os motoristas de ônibus do Rio de Janeiro. Um pequeno grupo de sindicalistas depredou contados 385 coletivos dentro das garagens das companhias, provocando o caos na cidade que tem a primazia de ser palco do jogo final do Mundial. Imagens do vandalismo correram o mundo. Menos de uma semana depois, em novo movimento que despertou atenções até mesmo fora do País, policiais militares de Pernambuco cruzaram os braços, abrindo caminho para uma onda de saques jamais vista na Grande Recife.
O caos, agora, se deslocou para a maior metrópole brasileira. Entre a terça-feira 20 e a quarta-feira 21, outro punhado de ativistas sindicais optou pela força para, aparentemente, divergir da aceitação, pelo sindicato da categoria, de uma proposta de reajuste salarial de 10% oferecida pela entidade patronal. Nada menos que 3 mil trabalhadores do setor, reunidos em assembleia, aprovaram a proposta, mas quem não gostou saiu, até mesmo com revólveres nas mãos, para esvaziar coletivos em pleno curso, atravessar ônibus em grandes avenidas e atear fogo em pelo menos uma dezena deles. Outra vez pânico, medo e uma situação caótica.
Mas isso não é tudo. Mesmo com uma proposta de reajuste salarial de 15,38% para o piso profissional, que chega, assim, a R$ 3 mil, e outros 13,43% sobre os salários maiores, os professores da rede municipal e ensino iniciaram a sua temporada de passeatas. A primeira ocorreu na semana passada, outra se deu na terça-feira 21 e a próxima já está marcada para a sexta-feira 23.
Cruzando a cidade no asfalto de grandes avenidas em direção ao centro da capital, onde fica a sede da Prefeitura, os professores interromperam o trânsito por horas a fio, causando engarrafamentos gigantescos mesmo para uma cidade acostumada ao trânsito parado na hora do rush. Eles pedem que os aumentos sejam incorporados aos salários, em lugar de serem um abono agora, como oferece a Prefeitura, e só entrem nos vencimentos regulares no próximo ano. "Na sexta, vamos parar São Paulo outra vez", determina o sindicalista Cláudio Fonseca, presidente da entidade da categoria.
Entre o vandalismo da greve dos motoristas e o oportunismo do movimento dos professores São Paulo terá de conviver, na quinta-feira 22, com uma possível greve de metroviários. Com os terminas de ônibus fechados nos últimos dois dias pela ação dos ativistas sindicais que agem em nome dos motoristas, tudo o que faltava para a população sofrer ainda mais era mesmo uma paralisação no metrô. E isso é o que está para ocorrer.
No plano nacional, agentes da Polícia Federal e da Polícia Federal Rodoviária insistem que cruzarão os braços nos próximos dias. Apesar da garantia das autoridades de que o movimento não ocorrerá em grande escala, trata-se de mais uma ameaça não apenas para a segurança da população, como também para o esquema de segurança montado para a Copa. O governo centrou seu plano de ação sobre a Polícia Federal, e até já promoveu o pagamento de metade do bônus estabelecido para esse trabalho extra. Mas, diante da rápida evolução do quadro de agitação sindical, também esta certeza ganhou uma interrogação.
A quinta-feira 22 pode ser marcada, ainda, por uma greve de servidores da área de Saúde no Rio de Janeiro. O movimento pode suspender o atendimento em postos de saúde e hospitais públicos. Outra vez, se isso acontecer, haverá repercussão nas manchetes e, assim, mais combustível para a proliferação de novas paralisações. Vale lembrar que diferentes categorias de servidores públicos federais também aceleram seu ritmo de reuniões de mobilização para tomar partido do momento em que, no plano ideal, nada disso poderia estar acontecendo em nome do clima de paz e alegria que deve se estabelecer em torno do Mundial.
A seguir no desenho atual, a Copa do Mundo no Brasil vai ganhando uma moldura de agitações que certamente não estava nos planos dos organizadores. Com isso, até onde se pode ver, todos correm o risco de saírem perdendo – a começar pela população dos grandes centros.
Informações 247
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