A Piauí conta que a Jovem Pan veicula propaganda do governo Alckmin disfarçada de reportagem. O ouvinte é premiado com “publieditoriais” sem qualquer aviso. O Metrô, lê-se na revista, investiu 235 mil reais na Pan neste ano. Em 2014, esse valor chegou a um milhão de reais.
O valor pago pela Sabesp não é revelado. Mas a emissora cobre a crise de falta d’água em São Paulo de uma maneira original: só boas notícias, como se pode verificar no site oficial da rádio.
Em abril, o jornalista Luiz Antonio Cintra publicou no Viomundo um relato didático de como as coisas funcionam. Cintra estava ajudando a dar sustentação aos comentários do publicitário Mauro Motoryn (mais conhecido por servir de escada para Marco Antonio Villa num programa em que os dois debatem).
Ele lembra que Motoryn acatou uma sugestão de falar dos problemas no Sistema Cantareira. Não foi muito longe. Um “supervisor” da Pan entrou no estúdio. “Mauro, aí não… aí não, Mauro. desse jeito fica ruim pra gente… Melhor não falar de água por enquanto, a Sabesp está colocando uma grana na rádio. Não tem outro assunto, não?”, disse o funcionário, de acordo com Cintra.
Providenciou-se outro assunto.
A Piauí cita também um dinheiro desembolsado pelo então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, atual ministro das Cidades. Durante sua gestão, jornalistas recebiam até 10 mil reais a mais por “matérias” favoráveis.
Uma fonte do DCM que trabalhou na Câmara Municipal na época me diz que Kassab dava aos vereadores da base aliada um “mensalinho” para bancar programas radiofônicos. Além da Pan, Tupi e Capital também entravam no bolo.
Quem conhece um pouco a Jovem Pan pode tudo, menos se surpreender. Isso é o clássico jabá, uma especialidade do meio que a empresa de Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o “Tutinha”, elevou ao estatuto de arte.
Jabá é, pura e simplesmente, um suborno. No mundo do FM, serve para gravadoras promoverem artistas. Ou se paga, ou a música não toca.
Tutinha sempre carregou a fama nacional de “jabazeiro”. Numa entrevista à Playboy, ele declarou que não se importava com o rótulo e que fazia, na verdade, “acordos comerciais”.
“Hoje chegam 30 artistas novos por dia. Por que eu vou tocar? Eu seleciono dez, mas não tenho espaço para tocar os dez. Aí eu vou nas gravadoras e para aquela que me dá alguma vantagem eu dou preferência”, disse. “Eu tocava, mas queria alguma coisa. Promoção, dinheiro.”
O “extra” para o reportariado elogiar o governo também é uma prática antiga. André Midani, ex-presidente da extinta CBS e da Warner, responsável por lançar boa parte das bandas dos anos 80, explicou o mecanismo para a Folha.
“O que aconteceu é que os funcionários de rádio não ganhavam e não ganham muito dinheiro. São salários modestos. Então no início o disc-jóquei encontrou nessa manobra um meio de ganhar um pouco mais”, disse. Os donos, prossegue Midani, “ficavam contentes, pois não tinham que aumentar os salários. Mas, na medida em que a soma de dinheiro foi ficando maior, começaram a pensar: ‘E eu nessa história?’”.
Para Midani, Tutinha fazia isso de “forma profissional”. “Armava-se quase uma operação de marketing genuína”, definiu.
Não existe quase genuíno, como não existe semi virgem. O modus operandi da emissora de Tutinha no jornalismo é o mesmo da música — área em que acumulou know how ao longo de décadas. Foi ali que Tutinha, filho do fundador, cresceu. Entre suas criações está o Pânico. Na Wikipedia, ficamos sabendo que ele “lançou do anonimato à fama os apresentadores Luciano Huck e Adriane Galisteu”. Desde junho de 2014, é o presidente do grupo.
Com a derrocada da indústria fonográfica, Tutinha e sua Jovem Pan tiveram de buscar outras fontes de receita, mas o método não difere. Ele já chegou a falar que queria “ser menos dinheirista” à revista Trip. “Parece demagogia, mas é verdade”, disse. “Caceta, que é que eu tô fazendo pros outros? Grande merda tudo dar certo e não fazer nada pros outros!”.
Bem, o que ele fez pelos outros é uma usina de ódio partidário, em que propaganda é travestida de jornalismo. O jabá a serviço do combate à corrupção.
Fonte: DCM
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