Por Paulo Nogueira
Passado o impacto da delação de Delcídio, e de seus vazamentos seletivos anteriores, fica claro que o maior estrago vai para Aécio e, por extensão, seu PSDB.
Dilma, ao contrário do que o noticiário da mídia afirmava, é quem se saiu melhor. Viralizou o trecho do depoimento de Delcídio em que ele narrava o começo da guerra feroz movida pro Eduardo Cunha contra ela.
Dilma desmontou o esquema de corrupção em Furnas que saíra do “controle”, contou Delcídio. Ao fazer isso, demitiu gente de Cunha que estava em Furnas para roubar. Começaram então as retaliações.
Um amigo resumiu: “Será que a única honesta nesta história toda vai se estrepar?”
Baixada a poeira, parece que não.
Quem se estrepou definitivamente foi Aécio. A delação de Delcídio encerra uma farsa da qual Aécio se beneficiou amplamente ao longo dos anos, com a contribuição da mídia cúmplice e da PF igualmente cúmplice: a de que a Lista de Furnas não existia.
Existe, sim, como provou Delcídio, e Aécio foi o principal beneficiário da fábrica de propinas instalada em Furnas.
Não é porque jornais e revistas fingiram que o escândalo de Furnas era invenção, não é porque a PF jamais se dignou levar adiante o caso, não é porque sucessivos promotores públicos fecharam os olhos — não é por nada disso que a roubalheira não existiu e dela jorraram mensalões generosos para Aécio.
A situação de Aécio, já precária, se complicou ainda mais depois que emergiram, nesta quarta, detalhes da conta secreta de sua família num paraíso fiscal.
Os dados foram revelados por uma revista da Globo, o que mostra que Aécio tantas fez que até os Marinhos já não se sentem em condição de protegê-lo mais.
É patético, vistas as coisas agora, relembrar a pregação moralista com a qual um corrupto consagrado como Aécio comandou desde sua derrota uma campanha criminosa para derrubar Dilma sob múltiplos argumentos absurdos.
No meio do caminho, abraçou-se a Eduardo Cunha, e finalmente os brasileiros estão vendo quanto os dois têm em comum.
A desmoralização de Aécio é um problema dramático para os que defendem, por interesses escusos, o impeachment.
Um elemento essencial da justificativa do impeachment era a montagem de um enredo fictício que dividia a política entre os corruptos e os puros. Você tira os corruptos para que os puros possam governar o país.
Foi pelos ares este enredo. Onde os puros? Aécio era a grande esperança dos orquestradores do golpe. Antes dele, Cunha. A esta altura, Aécio terá sorte se não for cassado por suas delinquências variadas.
Ficará difícil até para FHC fazer suas prédicas de carola daqui por diante: seu pupilo está exposto como jamais esteve, e ele deve torcer para que casos como o da sua compra do segundo mandato não irrompam no meio das denúncias e delações.
Sobra Mercadante: a mídia tentou transferir para ele os holofotes para poupar Aécio, mas foi inútil. A despeito de tudo, parece que é hora de Dilma se livrar de um sujeito que é amplamente detestado à direita, à esquerda e ao centro.
Uma coisa é certa: a delação de Delcídio não foi exatamente o que os golpistas queriam.
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