segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sobrou para as baianas de Acarajé

"No tabuleiro da baiana tem, vatapá, oi caruru, mugunzá...”, mas diferentemente da composição de Ary Barroso, a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) quer tirar tudo do tabuleiro das baianas, pelo menos das que ficam nas praias de Salvador. Conforme a titular do órgão na Bahia, Ana Vilas Boas, a lei federal de gerenciamento costeiro não permite ocupação das areias para comércio. Com isso os famosos, “acarajé ou abará”, vão deixar de serem ouvidos na orla da cidade.
A situação vai prejudicar cerca de 650 baianas que trabalham atualmente na Orla Marítima de Salvador, segundo dados da Associação de Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares do Estado da Bahia (Abam). Ainda segundo a associação, atualmente existem 100 baianas licenciadas que trabalham nas praias de Salvador. Quem criou os filhos com a venda de acarajé acha a decisão um absurdo, como a aposentada Maria Natividade Santos, 67 anos.
“Desde criança vendia acarajé comecei trabalhando com a minha mãe e depois tive o meu próprio tabuleiro e com ele criei e formei as minhas duas filhas. Uma é assistente social e a outra é pedagoga”, disse orgulhosa. “Acho essa decisão um disparate. Eles deveriam era se preocupar com os reais problemas do país e com uma solução para o desemprego”.
A turista mineira Marlene Monteiro, 39 anos, disse não ter entendido a lei. “as barracas nós entendemos e realmente as praias ficaram mais bonitas sem elas, as baianas? Isso é totalmente complicado, pois elas são o cartão-postal baiano. Ir às praias baianas e não comer um acarajé é como ir a Roma e não ver o papa. Depois qual será a outra medida? Proibir as pessoas de frequentarem as praias?”, questionou.
Com o objetivo de tentar resolver a situação, o prefeito João Henrique vai receber hoje, representantes da SPU, da Sesp e da Abam, para que se consigam chegar a um acordo. Segundo a gestão municipal, o trabalho das baianas de acarajé nas praias é inteiramente legitimo, desde que devidamente regulamentado. Destacou ainda que por não se tratar de uma atividade que não dispõe de estrutura física permanente, não fere o projeto Orla Brasil, da União Federal.
De acordo com o procurador do Meio Ambiente, Patrimônio, Urbanismo e Obras, Mário Rodrigues a prefeitura não pode dar nenhuma licença para comércio informal até que se consolide o Projeto Orla Brasil, da União Federal, que demoliu, em agosto do ano passado, 353 barracas de praia da Orla soteropolitana.
Conforme a presidente da Associação de Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares do Estado da Bahia (Abam), Rita dos Santos, a instituição recebeu nos últimos meses, pelo menos 10 pedidos de regularização, mas a Secretaria de Serviços Públicos e Prevenção a Violência (Sesp) teria negado os pedidos para atuação nas praias.
Símbolo baiano, o acarajé é um dos principais produtos vendido nos tabuleiros da baiana. Feito com feijão fradinho ele acompanha caruru, vatapá, salada e camarão, podendo ser ainda quente ou frio, a depender do gosto do freguês. De acordo com o secretário de sérvios públicos, Oscimar Torres, a fiscalização vai continuar.
“Acredito que vamos conseguir sensibilizar esse juiz e que ele vai rever a posição dessas mães e pais de família que sobrevivem e criam os filhos com avenda do acarajé nas praias da cidade”, disse o vereador Alfredo Mangueira que também vai ter uma reunião hoje com representantes da Abam. “Tenho certeza que esse juiz vai fazer algumas alterações como colocá-las na parte da calçada da Orla” completou confiante.
Origem do acarajé – A história do acarajé se confunde com a história do Brasil. O bolinho feito de feijão fradinho tem origem africana. A iguaria é vendida em tabuleiros desde o início do século passado, e vem recheado com vatapá, caruru, salada, pimenta e camarão. É ainda um dos mais importantes símbolos da cultura do Estado da Bahia e uma iguaria apreciada por baianos e turistas que ficam encantados com o sabor, aroma, cor e a forma descontraída de degustar este bolinho que é frito na hora e consumido nas ruas e principalmente praias.
O nome “acarajé” deriva do Iorubá, língua de origem africana que por sua facilidade era falada por todos no tempo dos escravos, e a composição se dá através das palavras “acará”, que significa pão, e “ajeum” que é o verbo comer, formando assim o nome acarajé.

Fonte: Tribuna


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