A ministra da Secretaria Especial de Proteção à Mulher, Iriny Lopes, deu prosseguimento à cisão ocorrida em seu grupo petista, a Articulação de Esquerda, e informou a auxiliares de que deve demitir funcionários de sua pasta que integram o grupo que se rebelou contra o comando da corrente.
Estão ameaçadas de exoneração três petistas com altos cargos na secretaria: a subsecretária de Planejamento e Gestão Interna, Renata Rossi; a diretora de Programa da Subsecretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas, Luciana Mandelli; e a subsecretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas, Angélica Fernandes.
Ministra da Secretaria Especial de Proteção à Mulher afirma que demitirá auxiliares após briga em grupo petista
As três integram a ala dissidente da Articulação. Elas deixaram a corrente após um imbróglio envolvendo suspeitas de filiação em massa, manobras regimentais e discussão sobre a prevalência de burocratas ou de movimentos sociais na organização partidária.
De um lado, estão Iriny e Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT e antigo dirigente do grupo; do outro, o ex-ministro da Pesca José Fritsch, presidente do PT de Santa Catarina, e o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA).
Fritsch e Assunção chegaram ao congresso da corrente no último fim de semana certos de que tinham votos suficientes dos delegados para tirar Pomar do comando da Articulação. Antes da votação, porém, Pomar apontou que dos 134 delegados, havia 36 vindos da Bahia que estavam "regimentalmente irregulares".
Propôs, então, que fosse feita a votação sem esses baianos e que depois fosse decidido se eles poderiam ou não votar. O grupo adversário viu aí uma manobra, tendo em vista que, sem os 36, não conseguiria maioria para vencer nem na eleição para dirigir a corrente e nem na que decidiria sobre o credenciamento dos baianos.
"Eles foram eleitos por pessoas que foram filiadas à tendência de maneira irregular. Por conta deste crescimento súbito, fizemos uma auditoria e recomendamos que o credenciamento dos respectivos 'delegados' fosse deliberado pelo Congresso. Eles não aceitaram e saíram antes do Congresso começar", disse Pomar.
Segundo ele, havia indícios de irregularidades regimentais, como pagamento coletivo de contribuições, o que o regimento permite em pouquíssimos casos; e militantes que estavam filiados à tendência, mas não ao PT.
Além disso, aponta um "crescimento súbito" de filiados às vésperas do Congresso. "No Estado em questão, havia no dia 28 de junho 193 pessoas filiados. No dia 30 de julho, em apenas 48 horas, esse número cresceu para 794."
Os dissidentes, porém, negam as irregularidades. Afirmam que a Bahia é o Estado em que a Articulação é mais forte no país, com pelo menos um quinto da representação nacional, além de um deputado federal, um estadual e uma secretária estadual. E que essa discussão é apenas uma divergência de fundo para desviar do principal: o desconforto com a liderança de Pomar.
Apontado como "autocrático" e "centralista", os dissidentes dizem que seu estilo vinha afastando outros militantes do grupo, além de novos filiados egressos dos movimentos sociais, tendo em vista seu posicionamento contrário à predominância dos movimentos sobre os quadros partidários na tendência.
"Estamos afastados dos movimentos sociais do campo e da cidade. Precisamos de uma nova perspectiva nesse sentido, mas isso foi visto por parte da coordenação como uma ameaça. Escreve-se bons documentos, boas teses, mas o que isso amplia em espaço dentro do partido? Queremos influir nas decisões do partido e do governo", afirmou o ex-ministro da Pesca José Fritsch.
"Nossa discordância é quanto ao método que ele [Pomar] implantou. Acreditamos no vínculo com os movimentos sociais e estávamos cada vez mais perdendo isso", disse o deputado Valmir Assunção, ligado ao MST.
Pomar discorda. "Achamos que o partido deva ser de massas e defendemos que as tendências devam ter uma composição distinta, mais restrita mesmo, uma vez que elas têm como objeto disputar os rumos do PT. Em consequência disto, achamos que o processo de adesão a uma tendência interna do PT deve ter critérios mais exigentes."
Com aproximadamente 10% de todo o PT, a Articulação é uma das mais tradicionais correntes internas. Os dissidentes calculam que representam cerca de 60% desses 10%, o que lhes dá, em nível nacional, 6% de representação. Há um encontro agendado para o dia 1º de setembro, onde os dissidentes iniciarão as conversas sobre que rumo tomarão. Parte avalia ser melhor formar uma nova tendência, enquanto outros apostam que é melhor formar uma frente de esquerda que agrupe outras tendências.
Informações Folha
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