quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pinheirinho ‘Não deu tempo de pegar nada’, conta moradora

O dia começou cedo no último domingo, 22 de janeiro, em São José dos Campos, interior de São Paulo. Depois de chuva forte, havia muita lama por toda a área do Pinheirinho. Às 5 horas da manhã, todos estavam recolhidos em casa, relativamente mais calmos depois que a ordem de despejo, imaginavam, havia sido suspensa.
Janaína (que pede para não ter o sobrenome citado), seu marido e filhos dormiam. Então veio o estrondo, seguido por sons diversos, despertando as famílias que vivem na área para um pesadelo.
Ela conta, com um olhar distante e um semblante tranquilo, algumas horas mais tarde, o que aconteceu nessa madrugada: “A maioria estava dormindo quando eles entraram. Eu acordei com o barulho do helicóptero. Abri o portão e meu vizinho estava gritando. Eles já estavam quebrando. Não tinha como ficar. Eles entraram em casa atirando. É uma covardia o que eles estão fazendo”.
Um susto. Porta arrombada. Gás. Na rua, caos, correria. Barulhos de tiros. Gritos. Todos saindo de casa atordoados.
“A gente sabia ali que a qualquer hora podia vir a polícia pra cima”. Mas foram pegos de surpresa.
“Sai de casa, sai, sai”, gritou um policial para uma senhora. Ela ainda estava assustada no início da tarde. “Não deu tempo de pegar nada. Eles disseram: deixa tudo aí, depois vai voltar para buscar. Peguei o que deu”.
“Peguei o que deu” foi uma expressão corrente. Adrian pegou as galinhas e a mãe. Teve gente que pegou o filho, o bebê. Algum carrinho de mão com um amontoado de objetos. Outros conseguiram jogar uns poucos bens, como aparelho de som e televisão, no porta-malas de carros. Cães. Os bichos deveriam vir junto impreterivelmente. Alguns, saindo do susto, aparentemente mais calmos, acreditaram nas palavras dos policiais e que a senha de papel que receberam daria direito a ir e ver, logo em seguida, a casa intacta para retirar o que quiser.
Janaína ficou confusa quando percebeu que tinha medo da polícia. “Na realidade, a gente tem eles para proteger a gente. Mas nesse caso, eles estão protegendo ninguém.” Uma senhora disse, com ar meio irônico: “liguei para o 190 para chamar a polícia!”
A confusão em torno do papel da polícia (medo ou confiança?), para a moradora do Pinheirinho, tem origem na Justiça.
“A juíza mandou e aproveitaram hoje, domingo, porque a liminar federal vai para ela amanhã (segunda-feira). Agora a maioria do povo vai para alojamento. Ainda tem bastante gente lá dentro. Não querem deixar as pessoas saírem nem entrarem”, conta Janaína, nessa tarde longa de um dia de medo e tensão.

Por Felipe Milanez e Maíra Kubík Mano







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