A ampliação dos direitos dos empregados domésticos, prevista na Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 478/10, não vai causar um movimento de demissão em
massa. A avaliação é da presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras
Domésticas (Fenatrad), Creuza Oliveira. Segundo ela, as mudanças previstas no
texto, que tramita no Congresso Nacional, reparam uma “injustiça histórica”
contra a “única categoria que não conquistou todos os direitos trabalhistas no
país”.
Os empregados domésticos foram reconhecidos como profissionais pela primeira
vez no Brasil com a Lei nº 5.859, de 1972. O texto previa a assinatura da
carteira de trabalho, férias de 20 dias, mas deixava de fora o Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS), o seguro-desemprego e outros benefícios. Em 1988, a
Constituição Federal garantiu o pagamento do salário mínimo e da
licença-maternidade de 120 dias a essa parcela de profissionais, mas também
deixou de fora o FGTS, que só foi estendido à categoria em 2001, pela Lei
10.208, porém de forma facultativa.
“A nossa categoria não tem esta preocupação [de uma possível onda demissão em
massa], até porque a principal mudança será um aumento pequeno, de 8% nos gastos
dos patrões, com o recolhimento do FGTS. Os empregados domésticos têm que ter
seus direitos como qualquer trabalhador e, quem não puder pagar pelos serviços,
que não tenha o profissional”, enfatizou.
Para ela, se as famílias compararem o impacto do recolhimento do FGTS no
orçamento às despesas extras que terão caso dispensem as empregadas domésticas,
concluirão que vale a pena manter as profissionais.
“Sem as empregadas, as famílias terão que pagar creche, almoçar fora, levar a
roupa para a lavanderia, entre outros. Na ponta do lápis, verão que o FGTS não
vai onerar tanto assim e esses gastos extras serão até maiores”, disse.
Creuza Oliveira reconhece que já existe no país a tendência de empregadores
fugirem da formalização, optando pela contratação de diaristas. Ela alerta, no
entanto, que esse tipo de contrato não é bom para as profissionais, mesmo que
consigam rendimentos superiores.
“Trabalhar assim não é vantajoso. A maioria [dos profissionais da categoria]
ainda prefere a segurança do trabalho fixo e da carteira assinada. Até porque,
se a profissional vai apenas um dia em uma casa, ela tem que fazer naquele
período praticamente o que faria durante a semana toda. Há uma sobrecarga”,
destacou.
A maranhense Alcione de Souza, de 25 anos, optou por ser diarista após
trabalhar com carteira assinada durante dois anos em Brasília. Essa foi a forma
que encontrou para aumentar os rendimentos. Ela conseguiu fazer um acordo com o
antigo patrão e reduziu os dias de trabalho de cinco para dois por semana. Nos
outros três dias, garante, nunca falta trabalho.
“Consegui dobrar meu rendimento assim. Com duas filhas pequenas, tenho muitas
despesas e precisava ganhar mais”, disse ela, que reclama, apenas, do fato de
não contribuir para o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
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