Abafada pelo feriado de carnaval, a entrevista que o prefeito deu à rádio Jovem Pan, na semana passada, escancarou a falta de preparo, gafes e ironias dos entrevistadores, que criaram um ambiente propício para que Haddad confrontasse a narrativa da mídia tradicional. Confira os principais momentos
Na última quinta-feira (12), véspera de Carnaval, o prefeito Fernando Haddad (PT) concedeu uma entrevista à rádio Jovem Pan que, no mínimo, deixou os entrevistadores incomodados. Ofuscado por conta do feriado, o “bate-papo”, que mais pareceu um interrogatório da oposição, se transformou em um ambiente perfeito para que o petista se saísse por cima e colocasse os jornalistas – no caso, Rachel Sheherazade, Marco Antonio Villa e Joseval Peixoto – expostos ao ridículo.
Com ironias que beiravam o desrespeito e uma clara falta de conhecimento acerca dos temas tratados, Villa, Sheherazade e Peixoto ficaram um tanto quanto irritados, principalmente diante da tranquilidade que o prefeito passava ao longo das respostas. “O senhor nos convenceu de que é um bom debatedor”, disse Joseval ao final da entrevista de mais de uma hora e meia de “sangria” do prefeito.
Para ilustrar o que foi a entrevista, selecionamos cinco momentos, entre outros inúmeros, em que Haddad buscou desconstruir os ataques dos jornalistas, que acabaram se portando mais como candidatos da oposição em um debate de campanha eleitoral.
1º. Tempo até o trabalho: Barueri não é São Paulo, Sheherazade
Logo no início da entrevista, Rachel Sheherazade comenta com Joseval Peixoto o quanto demorou para chegar ao trabalho naquela manhã. A jornalista reclamava que, por conta do trânsito, havia levado quase duas horas para chegar da sua casa em Barueri até os estúdios da Jovem Pan, na avenida Paulista.
“Aproveitando que o prefeito tá aqui: onde eu morava não tinha esse trânsito”, provocou a folclórica apresentadora do SBT, ressaltando que normalmente levava uma hora para chegar ao trabalho e que, naquela manhã, um acidente teria provocado um trânsito maior.
“Você vem de Barueri? Uma hora até aqui é razoável, não?”, respondeu prontamente o prefeito, lembrando que Barueri já é uma outra cidade e que a locomoção até a capital passa por rodovias que não são de competência da prefeitura. “Tem que mudar pra cá. Aqui se vive bem, posso garantir”, completou.
2º. Rejeição: “Você está errado”
Logo na primeira pergunta, Villa vai à lona na tentativa de nocautear Haddad. Sem se basear em nenhum dado concreto, o jornalista, que também é historiador, afirmou que a alta taxa de rejeição do prefeito é algo inédito e questionou o que estava errado: os eleitores ou a sua gestão. Haddad respondeu: “Você”.
“Quem? Os eleitores”, disfarçou o entrevistador. “Não. Você está errado”, insistiu Haddad, brincando ainda com o fato de Villa ser historiador e não ter consultado dados das gestões anteriores. Tanto Kassab quanto Marta Suplicy, que antecederam o petista na prefeitura, apresentaram taxas de rejeição igual ou superiores à do atual prefeito com o mesmo tempo de governo.
3º. Ciclovias, sempre as ciclovias
Ainda que aprovadas pela maior parte da população, Villa resolveu atacar as ciclovias implantadas pelo prefeito e, pelo tom da pergunta e pela maneira como conduziu esse tópico, chegou a ser ironizado pelo prefeito.
Com frases como “Tem mais gente andando no deserto do Saara do que nas ciclovias”, “prejudicou todo mundo” e “O carro está sendo tirado da vida das pessoas”, o historiador pareceu apenas reproduzir os argumentos daqueles que perderam suas vagas de estacionamento para as bikes. Haddad não perdoou e foi enfático.
“Você quer mesmo que eu responda?”, brincou o prefeito, que seguiu dando uma aula de como todas as grandes metrópoles do mundo estão se mobilizando, já há anos, para implantar o transporte individual não motorizado como modal de expressão. “O futuro do transporte público é ciclovia, isso no mundo inteiro”.
Não satisfeito, Villas seguiu com ataques e gafes, como quando, para justificar seu argumento de que a capital era muito acidentada para bicicletas, citou, de maneira infeliz, a cidade de Campos do Jordão. “E se o senhor fosse prefeito de Campos de Campos do Jordão? O senhor faria ciclovias?”, questionou, ao que Haddad respondeu de maneira simples. “Eu estou falando de megalópoles”.
4º. Matéria mentirosa serve de base para pergunta
Depois de demonstrar irritação entre uma pergunta e outra, Villa passou a bola para Sheherazade, que foi pouco feliz ao fazer um questionamento baseado em uma matéria da Veja São Paulo. No último final de semana antes do carnaval, a revista publicou uma matéria de capa em que acusava a prefeitura de um suposto superfaturamento na construção das ciclovias.
O caso, no entanto, foi desmentido poucos dias depois pela prefeitura, mas a jornalista insistiu com a questão.
“Me desculpe ser tão sincero: mas a Veja errou e errou feio”, disse Haddad, explicando que, ao contrário do que a publicação afirmou, foram construídos 156 km de ciclovias a um custo médio de R$180 mil por quilômetro. “Está tudo planilhado e disponível para quem quiser ver”, assegurou, esclarecendo que o que a revista fez, na verdade, foi pegar uma obra de intervenção urbana na Faria Lima – que inclui uma ciclovia – somar e dividir pelo número de quilômetros.
“O senhor tem medo de uma CPI?”, insistiu Sheherazade. “Que CPI, o que! Eu não temo nada. Criei uma controladoria geral do município que já botou muito corrupto na cadeia. Eu desbaratei a maior quadrilha de corrupção da história de São Paulo: a máfia do ISS”, lembrou.
5º. A gafe do Plano Diretor: “Ah, foi o senhor?”
No final da entrevista Villa foi além e mostrou, se não for falta de conhecimento, ao menos confusão ao falar sobre o Plano Diretor.
Em um determinado momento, Haddad falava sobre sua amizade com Gabriel Chalita (PMDB) e sobre as alianças com partidos opositores, como o PSDB, que era o partido anterior de Chalita. Quando citou o que considera picuinhas de oposição, como quando o PSDB se colocou contra o Plano Diretor que a prefeitura conseguiu aprovar no ano passado, Villa escorregou e resumiu bem como foi toda a entrevista.
“Aprovou agora um Plano Diretor na Câmara. Você vai vetar?”
“Mas fui eu quem mandei para a Câmara”, afirmou o prefeito.
“Ah, foi?”, confundiu-se o jornalista.
“Aprovou em julho do ano passado”, sepultou Haddad.
Informações Viomundo
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