quarta-feira, 4 de maio de 2016

Ocupação de escolas no Rio gera rede de solidariedade aos estudantes

                             Rio de Janeiro - Colégio Estadual Heitor Lira, na Penha, zona norte da cidade, está ocupado desde o dia 4 deste mês, e parte dos alunos pede a sua liberação (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Da
Agencia Brasil

Músicos, professores, artistas, cientistas, apoiadores e gente de boa vontade têm doado tempo e insumos para os estudantes que ocuparam mais de 70 escolas estaduais no Rio de Janeiro. O movimento começou no dia 21 de março, no Colégio Prefeito Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, zona norte da capital, em apoio à greve dos professores, iniciada no dia 2 de março, e por melhorias nas escolas e na educação.
A geofísica Mônica Costa é uma das pessoas que se solidarizou com a causa dos alunos e mobilizou amigos para dar aulas de ciências exatas. O objetivo não é substituir os professores, mas dar um reforço no conteúdo e ânimo para quem vai prestar o Enem. “A gente tem um coletivo, Mães e Crias na Luta, e as meninas estavam ajudando muito com palestras, mas todas na área de humanas. Me lembrei dos amigos que dão aulas de exatas e achei que eles iriam se empolgar para empoderar os meninos para as ciências. É uma área mais carente, falta bastante professores.”
O grupo reúne 12 geocientistas, entre geofísicos, geólogos e físicos, que montou uma escala para, a cada dia, um dar uma aula no horário do almoço. De acordo com ela, foi escolhida uma escola do centro, a Souza Aguiar, que fica perto do seu local de trabalho e tem recebido menos ajuda.
“As escolas da zona sul, Largo do Machado, Leblon, têm muito mais voluntários e gente se oferecendo. Isso contribuiu para a nossa escolha também, porque no centro e à medida que você vai se distanciando do metrô, é mais carente de voluntários para ajudar. Os estudantes foram bem receptivos, estavam precisando de aulas na época em que a gente chegou, então eles estavam bem abertos. Entramos em contato na semana passada e começamos a dar as aulas mesmo esta semana”.
Música e doações
O músico Gabriel Muzak participou de um sarau no sábado (30), no Colégio Estadual Paulo Freire, no Cachambi, zona norte da cidade, e está organizando um evento artístico e musical para o próximo domingo (8), a fim de arrecadar doações de alimentos e de material de limpeza para as escolas ocupadas. Para Muzak, o movimento é “autêntico e maravilhoso”, já que partem dos próprios estudantes, os principais afetados, as denúncias sobre os problemas na educação e nas escolas.
“O auditório não é grande, mas poderia receber muitos eventos. Tem cadeiras para o público, um palco, sistema de som, violão, cavaquinho e instrumentos de percussão". Mas, segundo os alunos, a sala fica trancada o ano inteiro e ninguém sabia da existência. Assim como a sala de informática, com vários computadores novos, cadeiras, e ninguém tinha conhecimento. Havia grande acúmulo de livros lacrados no pátio central, os alunos questionaram e foi colocado um tapume em volta, transformando o local em um depósito de livros escondidos.
Na última segunda-feira (2), a cantora Marisa Monte visitou o Colégio Estadual André Maurois, na Gávea, zona sul do Rio. Pelo Facebook, a cantora postou uma nota de apoio e a lista do que os estudantes precisam. “São jovens estudantes, batalhando pela educação e cuidando com amor do que é público. De forma organizada, cada um fazendo a sua parte e dando exemplo para este país. Cantei quatro músicas com eles e com o Dadi e pude voltar a ter esperança em uma força transformadora”.
Professor de história no Instituto Politécnico da Universidade Federal do Rio de Janeiro em Cabo Frio, Vitor Bemvindo montou com outros colaboradores o Observatório das Escolas Ocupadas. O grupo, no Facebook, tem feito a intermediação entre as necessidades dos estudantes e as pessoas dispostas a oferecer ajuda.
“Como a maior parte das pessoas que está envolvida mora na Tijuca, então estamos acompanhando mais as escolas aqui da região. É um grupo de Facebook, a gente coloca as demandas de atividades das escolas, as pessoas se oferecem no grupo e repassamos para as escolas. Estamos agindo como um grupo de apoio mesmo, não interferindo na autonomia da mobilização deles, a ideia é mesmo ouvir o que estão precisando e tentar mobilizar doações”.
Com mais de um mês das primeiras ocupações, Bemvindo lembra que está marcada para esta quarta-feira uma mobilização unificada, com atos em diversas regiões da cidade, como o Largo do Machado, Bangu, a Tijuca e o Méier.

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