quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Toquei 25 anos vendo do trio a violência acompanhar a alegria



Mais uma reflexão sobre a violência no Carnaval de Salvador,dessa vez é o cantor e compositor Manno Góes, que esteve boa parte de sua carreira artística em cima de um trio e viu como poucos todos os tipos de violência. Ele publicou esse texto, em sua pagina no Facebook,e o blog tomou a liberdade de reproduz. Para reflexão,vale apena ler e refletir!!!


Toquei 25 anos vendo do trio a violência acompanhar a alegria.
Vivi muitas alegrias!
Mas...
Vivi momentos muito tristes:
Vi facada.
Vi socos gratuitos derrubando foliões que só brincavam e olhavam para cima.
Vi mauricinhos brigando com cordeiros e tomando chute no rosto.
Vi negros fortes se defendendo de ofensas inesperadas derrubando bêbados brancos de abadás.
Vi mulheres negras tomando tapa de outras mulheres negras.
Vi patricinhas louras puxando cabelo de outras patricinhas por ciúme do namorado.
Vi garotos brancos brigando com outros garotos brancos como se estivessem em uma guerra.
Vi mulheres de abadás tomando soco no rosto de cordeiras.
Vi pessoas brancas de abadá cheirando lança caindo de cara no chão, quebrando queixos e dentes, dentro do bloco.
Vi tiros sendo disparados para o alto.
Vi garotos fortes brancos vestidos de filhos de Ghandi batendo em magrelos pretos.
Vi magrelos pretos batendo de galera em garotos brancos vestidos de Ghandi.
Vi e presenciei muita violência gratuita.
E sempre percebi uma coisa:
Brancos de abadás brigavam entre si.
Negros pobres de favela trocavam socos entre si.
A violência não era privilégio da favela.
Não é.
No meio da alegria e celebração sempre houve gotas de sangue derramadas.
Sempre.
Desde meu primeiro carnaval, em 1992.
E hoje, pela TV e internet, vejo a violência presente, como sempre.
E a polícia militar, especialmente, presente nessas cenas lamentáveis.
E então a pergunta: a polícia está promovendo a violência?
Vi muitas vezes a polícia passando como um trator, empurrando quem estivesse pela frente 
para passar.

Mas sabe o que vi também?
Vi polícia militar protegendo mulheres grávidas da confusão.
Vi a polícia militar e civil impedindo que uma briga entre gangues se propagasse.
Vi policiais socorrendo crianças perdidas e velhos passando mal.
Enfim...
A violência existe. Sempre existiu.
Entre erros e acertos, o trabalho da polícia durante o carnaval de Salvador sempre foi importante.
Se há excessos, que sejam observados e punidos.
Mas não devemos também nos exceder nas críticas.
Não haveria carnaval sem o trabalho da polícia.
Também quero uma polícia mais pacífica.
Covardia é covardia de qualquer lado: e os dois lados estarão errados quando houver covardia.
Como dizemos aqui na Bahia: “respeita a poliça”.
Foto: reprodução Google

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