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O jornal O Globo quebrou protocolo e publicou editorial de página inteira, nesta terça-feira (23), onde afirma que, com a prisão de Fabrício Queiroz, o ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), “os delírios golpistas do bolsonarismo que surgiram com ares de tragédia se aproximam da farsa”.
O jornal lembra que “o fraseado do ex-capitão, modulado nos 28 anos de baixo clero na Câmara, em favor de torturadores do ciclo de chumbo da ditadura militar, as ameaças ao Supremo, as palavras de ordem de pequenos grupos por um novo regime de exceção verde-oliva gritadas em manifestações bolsonaristas, mantendo o ex-capitão no Planalto, prenunciavam um impossível retorno ao início dos anos 1960, sem Guerra Fria e sem comunistas escondidos em todos os lugares, mas prontos para conseguir o que não foi possível no levante fracassado de 35, a Intentona”.
Para o Globo, se fosse possível um golpe bolsonarista, “implicaria um regime de força, truculento, isolado no mundo, com uma economia já conectada a mercados globais, em um país com mais de 200 milhões de habitantes, repleto de desníveis sociais, mas com todas as condições de reduzi-los dentro das liberdades constitucionais”.
“O processamento das informações sobre as traficâncias financeiras de Flávio Bolsonaro, com a ajuda de Fabrício, terminou sendo retomado no MP do Rio de Janeiro, e parte das descobertas foi conhecida com o resgate de Queiroz, que se escondia numa casa em Atibaia, próximo a São Paulo, de propriedade de Frederick Wassef, advogado do presidente da República. O imóvel parecia receber uma maquiagem para parecer um escritório de advocacia do novo frequentador assíduo do Alvorada e do Planalto, e dessa forma se beneficiar da inviolabilidade legal do espaço de trabalho dos advogados. Mas a polícia chegou antes, na quinta-feira”, adverte o texto.
O Globo ainda recorda que “o PM aposentado, amigo de Jair Bolsonaro e depois dos filhos, comprovadamente pagou despesas de Flávio e família com dinheiro de origem desconhecida. Todas as evidências indicam que veio do desfalque nos cofres públicos dado com a subtração de parte dos salários dos assessores do ainda deputado estadual Flávio, muitos deles da família de Queiroz e de Bolsonaro. Este tem de ser um negócio em família, literalmente”.
Além disso, o editorial ainda ressalta que “junto com a descoberta de Queiroz sob proteção do advogado presidencial devem ganhar nitidez ligações no mínimo arriscadas do clã Bolsonaro com o submundo das milícias cariocas”.
Ao final, o texto afirma que “diante do que já se sabe e do que está por vir, é natural que todos se perguntem — incluindo militares que emprestam a honorabilidade da instituição ao governo — qual mesmo o objetivo do golpe de que tanto se fala. Ou pelo menos se falou. Se não há comunistas, e o país demonstra ter instituições que garantem a governabilidade, resta a suposição muito plausível de que tudo é mesmo para proteger família e amigos, num puro estilo caudilhesco. Esta é a farsa”
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