Foto reprodução
O prédio é centenário e se constitui em uma réplica do castelo de Versailles situado na França. E, olhado de determinados ângulos, parece ter parado no tempo e não permite que a beleza arquitetônica seja admirada tal o abandono de alguns pavilhões. O Abrigo Dom Pedro II, administrado pela Prefeitura Municipal de Salvador, e que hoje abriga 74 idosos carentes, está com muitas deficiências que precisam ser corrigidas pela administração municipal para que esse único abrigo público tenha condições de dar um bom atendimento. Foi o que o Ministério Público estadual, por meio do Grupo de Atuação Especial em Defesa dos Direitos dos Idosos (Geido), constatou na manhã de hoje, dia 06, em uma inspeção surpresa. Para oferecer apoio e exigir as mudanças necessárias, o promotor de Justiça Ulisses Campos agendou uma reunião que acontecerá no próximo dia 11, às 13h, no gabinete do titular da Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate a Pobreza (Semps), Maurício Trindade.
Atuando no Geido, Ulisses Campos tem visitado unidades asilares e está determinado a combater os abrigos clandestinos que vêm funcionando em Salvador. Segundo ele, pelo menos 20 instituições dessa natureza vêm acolhendo pessoas idosas, cobrando caras mensalidades, mas ignorando as exigências da lei, começando pela falta de alvará de funcionamento. Por isso, disse já ter conseguido a interdição de dois deles e vem mantendo um esquema de fiscalização contando com a parceria da Vigilância Sanitária, Codesal, Conselho Municipal do Idoso e da Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (Deat). Ao visitar o abrigo D. Pedro II hoje, ele disse que não pode apontar os erros dos abrigos particulares e deixar o mantido pelo poder público atuando de forma precária.
Segundo eles, após a confecção do relatório, darão novos prazos para o abrigo porque entendem que o trâmite é lento e muita coisa depende de licitação. Listam que a lavanderia e os sanitários se constituem em pontos críticos e vão manter contato com a Visa de Lauro de Freitas para que possa ser verificada a situação da empresa que fornece a alimentação dos idosos do Abrigo D. Pedro II. Eles dizem que a distância é grande entre aquele município, onde se situa o fornecedor das refeições, e o abrigo, situado no bairro de Boa Viagem. Por esta razão, querem saber como essa alimentação é feita, como é acondiciona e transportada, pois nesse caso é exigido um veículo próprio, ainda mais com os grandes congestionamentos que se verificam em Salvador.
Durante a visita, pode-se constatar que, na entrada do prédio onde funciona a administração, debaixo da escada, um cão está instalado sobre um tapete improvisado, ao lado da vasilha com água. Armários das cozinhas apresentam vestígios de fezes que, segundo idosos são de rato. Em um pavilhão que segundo um dos moradores está abandonado há cerca de 10 anos, cupins e goteiras se misturam com computadores quebrados, mesas, cadeiras, colchões, camas, sendo que alguns desses materiais poderiam estar sendo utilizados, mas jogados no chão molhado e sujo, deverão ter o lixo como destino. Faxineiros trabalham sem o devido equipamento de segurança e sem farda. O mato pelo jardim impede que os idosos possam sentar nos bancos de cimento, que na verdade também já necessitam de reparos. Do alto do centenário prédio uma das estátuas desabou e está sendo destruída no matagal.
Não há acessiblidade e os idosos utilizam escadas para chegar aos seus minúsculos aposentos contando com banheiros que são também usados por funcionários, em número reduzido com alguns interditados. Segundo a gerente Valéria Carvalho, que assumiu há pouco tempo na mudança de administração da Prefeitura, muitos problemas foram, de fato, encontrados e junto com a Semps está buscando solucionar questões como o pagamento atrasado dos servidores terceirizados. Na reunião do dia 11, o promotor Ulisses Campos pretende discutir com Maurício Trindade inclusive a possibilidade de realização de concurso público para que o abrigo tenha seu corpo de médicos, enfermeiros, cuidadores e outros, a fim de que não haja descontinuidade na mudança de administração nesse abrigo que é tombado pelo patrimônio histórico de Salvador e é a única instituição pública do município que atende pessoas com mais de 60 anos de idade em situação de vulnerabilidade pessoal ou social.
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