Há sete meses, Carlos e Cristiane (nomes fictícios) saem do município de Jequié (a 365 km de Salvador), a cada 15 dias, para visitar Renato (nome fictício), de 17 anos. O destino da viagem é a Comunidade de Atendimento Socioeducativo de Simões Filho, a Case-CIA, onde eles podem reencontrar o jovem, o mais velho dos três filhos do casal.
Nas mãos da mãe, 38 anos, goiabada, biscoitos, bombons e pães, embalados em sacos plásticos. “Trouxe as coisas de que ele mais gosta”, contou. O pai sequer consegue definir o que sente ao ver o filho no local e não poder levá-lo de volta para casa. “É difícil”, diz, sucinto.
Renato é um dos 77 adolescentes que cumprem a medida de internação – privação de liberdade – na Case-CIA, unidade que atende menores em conflito com a lei.
A instituição funciona desde o ano de 1998. Em agosto de 2002, ganhou amplo espaço na mídia, quando o ex-interno Ednalvo de Jesus de Andrade, 20 anos, sequestrou a assistente social Magali Bittencourt, 29 anos, e a levou para uma das salas da instituição. Na ação, que durou 23 horas, o jovem atirou na funcionária e, em seguida, foi morto por policiais.
“Tem muito tempo que não acontece nada parecido aqui. Houve rebelião após esse episódio, mas sem a repercussão da mídia”, contou o diretor da Case-CIA, Antônio Carlos Viana de Azevedo.
Segundo ele, as brigas entre internos não são recorrentes, mas acontecem. “A equipe está preparada para fazer intervenções, mas os jovens reativos não estão aqui. Os que chegam são avaliados antes, passam por triagem. Quem vem é quem quer um futuro melhor”, completa.
Esperança - E é com essa perspectiva de um futuro promissor que Renato Souza permanece na unidade, sem saber o dia exato para a liberdade – a internação pode levar de seis meses a três anos.
“Quero fazer vestibular e cursar uma faculdade na área de saúde”, afirmou. A mãe, ao lado do filho, completou: “Com a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), ele conseguiu pontuação suficiente para os cursos de fisioterapia e enfermagem”.
Renato ainda não completou o ensino médio, mas cursa o último ano escolar na própria Case-CIA. De acordo com instrutores, é um aluno dedicado. No turno oposto aos estudos, participa das oficinas de informática e artefatos de cimento e gesso.
Ele cumpre medida socioeducativa por homicídio e diz que está arrependido, sem entrar em detalhes sobre o caso. Emocionada, a mãe toma a palavra: “O meu filho é um menino bom. Nunca recebi queixa dele vinda de amigos ou vizinhos. O que aconteceu foi uma fatalidade”.
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