Desde março, mês em que foi registrado o primeiro caso de Covid-19 na Bahia, o Instituto Couto Maia (ICOM) tornou-se o hospital referência para os casos da doença no Estado e já atendeu até hoje (24), 2.377 pacientes, com 563 altas. Nesse período, a equipe assistencial acumulou muitos aprendizados sobre esta nova doença que acomete de forma sistêmica e, algumas vezes, avassaladora o organismo dos pacientes.
A médica infectologista Karine Ramos, coordenadora da emergência do ICOM, unidade que recebe os pacientes por meio do sistema de regulação da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), diz que os pacientes têm chegado ao hospital em condições mais graves. Uma das hipóteses é que as pessoas têm demorado a procurar uma unidade de saúde por receio de se contaminarem, e quando chegam já apresentam quadro clínico pior da doença.
Sintomas
A médica alerta que não se deve adiar a procura por assistência e cita os sintomas que não devem ser negligenciados: falta de ar, dor torácica ao respirar, febre igual ou maior que 37,8˚C por mais de uma semana, sonolência e prostração. A médica destaca, ainda, a hipoxemia silenciosa, comum na Covid-19, quando o paciente já está com baixa oxigenação no sangue, mas não sente desconforto. Por isso, o conjunto de sintomas deve ser observado com atenção.
Mais de 29 mil estudos já foram publicados sobre a Covid-19. No mundo todo, pesquisadores trabalham para descobrir como tratar a doença e como ela afeta o organismo das pessoas. Mas, muitas vezes, são estudos ainda investigativos que demandam mais tempo para que tenham conclusões consolidadas. Com isso, a qualidade e a experiência da prática médica e dos demais profissionais de saúde é determinante para o sucesso no tratamento dos pacientes.
Ventiladores não são mais a primeira opção
Karine Ramos explica que já foram feitas várias alterações nos protocolos médicos do ICOM e, hoje, a equipe utiliza procedimentos de auxílio respiratório não invasivos antes de decidir pela intubação do paciente, o que não era o praticado em março, no início da pandemia. Ao longo do processo, a prática assistencial mostrou que é possível obter bons resultados com ventilação não invasiva como ventilação em prona, prona consciente, oferta de oxigênio sob cateter nasal ou sob máscara não reinalante, sendo a ventilação mecânica invasiva o último recurso para tratar um paciente de Covid-19. Outro ponto de evolução é o uso de corticoides para os pacientes que tenham dificuldades respiratórias e necessitem de suplementação de oxigênio.
Mais de 500 altas
A médica diz que o momento é crítico para a equipe, que precisa estar sempre vigilante, porque os pacientes podem agravar com muita rapidez, mas destaca que os profissionais estão mais confiantes porque já reconhecem melhor e com antecedência a evolução da doença e podem tomar atitudes com agilidade. É necessário estar se atualizando constantemente, porque a velocidade de produção de conhecimento é grande. Karine Ramos diz que é importante manter-se fiel aos princípios da medicina baseada em evidências, para não haver ilusão com terapêuticas sem comprovação e que possam trazer riscos desnecessários aos pacientes. No ICOM, que já contabiliza até hoje (24) 563 altas, a equipe médica não utiliza Cloroquina, Hidroxicloroquina ou Ivermectina no tratamento dos pacientes, medicações que não tiveram sua eficácia comprovada.
Tratamento continuado
Karine Ramos destaca que em alguns pacientes, mesmo após não haver mais a presença do vírus, os problemas respiratórios podem continuar, como tosse seca persistente e casos mais graves como fibrose pulmonar, além do quadro de prostração. Importante também ter atenção com a síndrome da fadiga crônica e a sarcopenia, que é a diminuição da massa muscular no corpo. Nestes casos, o tratamento precisa ser continuado no ambiente hospitalar ou em casa, de acordo com a orientação médica.
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